Tempo de Brincar

jul. 30, 2021

Querido Boteco, olha nós aqui outra vez. Faz um tanto e aconteceu de um tudo, né? Mas eu imaginava que essa hora podia chegar e é agora: volto a escrever no nosso amado cantinho, sempre que der. Quem já conhece o esquema da casa sabe: não tem regra, nem periodicidade; o compromisso é se comunicar quando rolar. Dar vazão a pensamentos, insights, crônicas do dia a dia, assuntos que pintarem. O tal papo de boteco mesmo. E para quem está chegando agora, minhas boas-vindas: puxe uma cadeira e fique à vontade.



Pra estrear nosso Boteco de agora, ou Boteco no meio do Apocalipse, (ou sei lá como chamar essa nova versão); eu fiquei a fim de falar sobre o clipe novo. Lançamos no começo do mês música e vídeo inéditos de “Tempo de Brincar”. A escolha dessa época não foi aleatória: a ideia era homenagear o mês do rock, trocar ideia sobre esse assunto, ressignificar e substanciar a data. Isso rolou de um jeito massa através das redes, essa conversa. Falamos sobre a história do Dia Do Rock e do começo de tudo. Adendo rápido e essencial pra encurtar esse caminho: quem curte rock precisa saber sobre Sister Rosetta Tharpe.



E aqui, no Botequim, eu queria contar sobre o processo criativo e desvendar um pouco letra e vídeo de Tempo de Brincar.



Não sei ao certo a data, mas lá nos idos de algum tempo atrás eu e Martin começamos a fazer várias sessions de gravação na minha casa. Produzimos bastante coisa. Eu tinha acabado de instalar um programa de gravação no meu computador e estava na pilha de aprender, ter mais autonomia na hora de registrar minhas demos e ideias. E também curtíamos esse processo de jam session, de tocar livremente, por diversão mesmo. Fizemos muitas experiências nessa época e ao longo de alguns anos. Algumas dessas viraram música, de fato. Acho que tem algo no SETEVIDAS, provavelmente alguma outra virou single, umas não viraram nada e ainda há outras maturando, guardadas. Com o tempo entendi que canção é um troço ardiloso: algumas delas precisam de tempo para serem degustadas, outras necessitam ser imediatamente. E a vida foi indo.



Ano passado, pandemia, caos, desgoverno; sem shows, isolamento social; sem ideia do que estaria pela frente. Me embrenhei criativamente em março do ano passado num processo que, para minha própria surpresa e alegria, rendeu um monte de lançamentos. Acabou sendo um período bastante produtivo pra mim - e uma espécie de salvação. VideoTrackz, releitura de Anacrônico com Josyara, depois streamando na Twitch, produzindo audiovisual e conteúdo inédito, clipe da também inédita Na Tela, filme do Matriz e DVD ao vivo em Salvador lançados, ufa. Esqueci algo?



E sempre procurando me inspirar e ter ideias. Conversando com Rafa, percebemos o tanto de material que criamos esses anos todos e que nunca haviam sido lançados. Coisas que talvez nunca viessem à luz do dia porque estávamos sempre produzindo mais e mais: o que ia ficando de extra das gravações foram formando um baú bem recheado. Eis que, numa dessas, Daniel resolveu organizar um HD da época das experimentações com Martin. E encontrou pronta e gravadinha; com letra, solo de guitarra e tudo, Tempo de Brincar.



Escutamos e fez muito sentido que ela aparecesse agora. Um rock cru, meio stoner, simples. “Rock duro”, como diria um brother meu. Eu tava bem a fim de fazer um som assim de novo. Com uma letra simples e cheia de subjetividades, aberta à interpretações. Nessa gravação eu toquei bateria, percussão e vocais; e Martin guitarras e baixo. Quando a descobrimos- (acho que estávamos finalizando Matriz?)- fomos pro Rio e fizemos uns overdubs; adicionei umas teclas, piano e mais percussão; e imagino que Martin tenha feito mais algumas guitas.

Pronto, deixa ela aí que uma hora a gente lança.



Essa hora foi agora há pouco. Desde o ano passado os assuntos e temáticas dos meus textos, tweets, conversas no Saia Justa e também canções têm sido o momento, revolução, amor, contemporaneidade, liberdade, pertencimento. No Matriz tem tudo isso e mais um pouco. Na Tela foi uma música escrita no começo da pandemia e falava sobre a impossibilidade do contato físico e as frustrações e /ou platonizações da vida virtual. Em Tempo de Brincar, pro mês do rock, o lúdico falou mais alto. Lembro que quando fazíamos essas jam sessions em casa, Martan chegava lá e o papo era “e aí, vamo brincar de quê hoje?”



O eu-lírico dessa música é uma figura que encontra no lado oculto, na noite, no avesso, o seu tempo de brincar. A hora de ser perigosamente livre, de se desprender das convenções e da casca da adultice, a hora de se permitir ser. Tem uma peraltice nessa brincadeira, o delicioso fator “cuidado, menina!”, uma saci ou erê que gosta de aprontar. O telefone é a vida adulta. Às vezes ele toca e interrompe a brincadeira, chamando pra responsa e para o que deve ser. O telefone é também a aurora; o dia que chega inegociável bradando que a noite acabou e é preciso ir pra casa. Quando a gente brinca livremente, ou quando estamos num momento muito bom, perdemos a hora. O tempo, a hora correta de fazer as coisas começa a fazer parte da vida; “tá na hora de estudar, tá na hora de deitar, tá na hora de acordar…”



A entrada da cronologia nas nossas vidas é um marco, uma espécie de ruptura com a inocência e a chegada da responsabilidade.

Hoje, enquanto adultos, que hora você se sente brincando de forma livre, solto, sem se preocupar com o olhar alheio?



O clipe é um parágrafo à parte: estava procurando um mote, um assunto. Sabíamos que precisávamos de uma ideia simples e eficiente: em plena pandemia, teríamos que filmar com equipe bastante reduzida por questão de segurança, todos testados, e assim o fizemos. Pouquíssimas pessoas no estúdio e esse resultado que eu absolutamente adoro. Quando começamos o brainstorm, eu e Fabrizio Martinelli, que dirigiu o vídeo, pensamos em muitos recortes. Logo ficou claro a influência dos anos 90 nas nossas bagagens e achamos que o clipe tinha tudo a ver com a estética grunge. Aquela coisa de ter um fio central e ao redor disso imagens e símbolos, como num sonho; uma coisa davidlynchiana mesmo.

Como eu e Martin gravamos os instrumentos, perguntei se existia um jeito de nós dois sermos quatro no quadro. Pensei em formação clássica de banda, e tinha que ter os instrumentos e a gente tocando. TINHA que ter batera, guitarra. Imaginei um por um entrando em cena e a “banda” ir se formando aos poucos. Eu levantaria da bateria e a imagem ficaria lá, congelada… será que rola? Como faz isso? E aí, Brizio?

“BORA”.



Segundo o próprio: “Esse efeito usado no clipe se chama Freeze Frame ou Stop and Go; e consiste em gravar a mesma cena, o mesmo quadro, com a câmera travada. E no nosso caso a gente precisou colocar os quatro em posições específicas para não sobrepor a imagem e assim poder recortar pra fazer o efeito. Então as cenas foram gravadas separadas: um take inteiro de Pitty na bateria, um inteiro de Martin no baixo, outro Pitty no vocal, outro Martin na guitarra. E a junção acontece na montagem.”



Essa é a veia central. Nesse brainstorm, afinando as ideias com ele e Martin, vieram as outras imagens e sensações. Tem que ser “kinky”. Uns objetos BDSM, com certeza. Eu queria algemas e até tentamos, mas não deu certo. Já a venda funcionou lindamente, rs.

Tem uma cena que eu amo, a que a gente chamou na hora de “gambito da rainha”: um plano frontal com uma luz de frente, um leve plongé, foco no carão. Alguns mastershots ali, olho no olho, papo reto. Outro lance que acho foda foi a ideia do Brizio de usar uma lente que se chama Lensbaby. Ela é um lance meio analógico, sei lá, tem que fazer literalmente na mão. Essa lente distorce e desfoca as laterais do quadro, e dá um aspecto onírico à cena. Fica lindo e tinha tudo a ver com o lance 90’s que queríamos.



E é isso, Tempo de Brincar tá no mundo e nosso Boteco de hoje tá na saideira. Dá uma chegada lá no  meu Youtube pra assistir ;)



Qualquer hora eu volto. <3



Bjs, P.



Obrigada aos envolvidos pelo clipe foda!



Direção: Fabrizio Martinelli

Direção de Fotografia: Alan Fábio Gomes

Assistente de Câmera: Murilo Perches

Contra-Regra: Caio Medeiros

Produção Executiva: Silvia Helena Rosa

Sound Fxs: Leonardo Leone

Make Up & Hair: Pitty

Stylist: Juliana Maia



Querido Boteco, olha nós aqui outra vez. Faz um tanto e aconteceu de um tudo, né? Mas eu imaginava que essa hora podia chegar e é agora: volto a escrever no nosso amado cantinho, sempre que der. Quem já conhece o esquema da casa sabe: não tem regra, nem periodicidade; o compromisso é se comunicar quando rolar. Dar vazão a pensamentos, insights, crônicas do dia a dia, assuntos que pintarem. O tal papo de boteco mesmo. E para quem está chegando agora, minhas boas-vindas: puxe uma cadeira e fique à vontade.


Pra estrear nosso Boteco de agora, ou Boteco no meio do Apocalipse, (ou sei lá como chamar essa nova versão); eu fiquei a fim de falar sobre o clipe novo. Lançamos no começo do mês música e vídeo inéditos de “Tempo de Brincar”. A escolha dessa época não foi aleatória: a ideia era homenagear o mês do rock, trocar ideia sobre esse assunto, ressignificar e substanciar a data. Isso rolou de um jeito massa através das redes, essa conversa. Falamos sobre a história do Dia Do Rock e do começo de tudo. Adendo rápido e essencial pra encurtar esse caminho: quem curte rock precisa saber sobre Sister Rosetta Tharpe. 


E aqui, no Botequim, eu queria contar sobre o processo criativo e desvendar um pouco letra e vídeo de Tempo de Brincar.


Não sei ao certo a data, mas lá nos idos de algum tempo atrás eu e Martin começamos a fazer várias sessions de gravação na minha casa. Produzimos bastante coisa. Eu tinha acabado de instalar um programa de gravação no meu computador e estava na pilha de aprender, ter mais autonomia na hora de registrar minhas demos e ideias. E também curtíamos esse processo de jam session, de tocar livremente, por diversão mesmo. Fizemos muitas experiências nessa época e ao longo de alguns anos. Algumas dessas viraram música, de fato. Acho que tem algo no SETEVIDAS, provavelmente alguma outra virou single, umas não viraram nada e ainda há outras maturando, guardadas. Com o tempo entendi que canção é um troço ardiloso: algumas delas precisam de tempo para serem degustadas, outras necessitam ser imediatamente. E a vida foi indo.


Ano passado, pandemia, caos, desgoverno; sem shows, isolamento social; sem ideia do que estaria pela frente. Me embrenhei criativamente em março do ano passado num processo que, para minha própria surpresa e alegria, rendeu um monte de lançamentos. Acabou sendo um período bastante produtivo pra mim - e uma espécie de salvação. VideoTrackz, releitura de Anacrônico com Josyara, depois streamando na Twitch, produzindo audiovisual e conteúdo inédito, clipe da também inédita Na Tela, filme do Matriz e DVD ao vivo em Salvador lançados, ufa. Esqueci algo?


E sempre procurando me inspirar e ter ideias. Conversando com Rafa, percebemos o tanto de material que criamos esses anos todos e que nunca haviam sido lançados. Coisas que talvez nunca viessem à luz do dia porque estávamos sempre produzindo mais e mais: o que ia ficando de extra das gravações foram formando um baú bem recheado. Eis que, numa dessas, Daniel resolveu organizar um HD da época das experimentações com Martin. E encontrou pronta e gravadinha; com letra, solo de guitarra e tudo, Tempo de Brincar.


Escutamos e fez muito sentido que ela aparecesse agora. Um rock cru, meio stoner, simples. “Rock duro”, como diria um brother meu. Eu tava bem a fim de fazer um som assim de novo. Com uma letra simples e cheia de subjetividades, aberta à interpretações. Nessa gravação eu toquei bateria, percussão e vocais; e Martin guitarras e baixo. Quando a descobrimos- (acho que estávamos finalizando Matriz?)- fomos pro Rio e fizemos uns overdubs; adicionei umas teclas, piano e mais percussão; e imagino que Martin tenha feito mais algumas guitas. 

Pronto, deixa ela aí que uma hora a gente lança.


Essa hora foi agora há pouco. Desde o ano passado os assuntos e temáticas dos meus textos, tweets, conversas no Saia Justa e também canções têm sido o momento, revolução, amor, contemporaneidade, liberdade, pertencimento. No Matriz tem tudo isso e mais um pouco. Na Tela foi uma música escrita no começo da pandemia e falava sobre a impossibilidade do contato físico e as frustrações e /ou platonizações da vida virtual. Em Tempo de Brincar, pro mês do rock, o lúdico falou mais alto. Lembro que quando fazíamos essas jam sessions em casa, Martan chegava lá e o papo era “e aí, vamo brincar de quê hoje?” 


O eu-lírico dessa música é uma figura que encontra no lado oculto, na noite, no avesso, o seu tempo de brincar. A hora de ser perigosamente livre, de se desprender das convenções e da casca da adultice, a hora de se permitir ser. Tem uma peraltice nessa brincadeira, o delicioso fator “cuidado, menina!”, uma saci ou erê que gosta de aprontar. O telefone é a vida adulta. Às vezes ele toca e interrompe a brincadeira, chamando pra responsa e para o que deve ser. O telefone é também a aurora; o dia que chega inegociável bradando que a noite acabou e é preciso ir pra casa. Quando a gente brinca livremente, ou quando estamos num momento muito bom, perdemos a hora. O tempo, a hora correta de fazer as coisas começa a fazer parte da vida; “tá na hora de estudar, tá na hora de deitar, tá na hora de acordar…” 


A entrada da cronologia nas nossas vidas é um marco, uma espécie de ruptura com a inocência e a chegada da responsabilidade. 

Hoje, enquanto adultos, que hora você se sente brincando de forma livre, solto, sem se preocupar com o olhar alheio? 


O clipe é um parágrafo à parte: estava procurando um mote, um assunto. Sabíamos que precisávamos de uma ideia simples e eficiente: em plena pandemia, teríamos que filmar com equipe bastante reduzida por questão de segurança, todos testados, e assim o fizemos. Pouquíssimas pessoas no estúdio e esse resultado que eu absolutamente adoro. Quando começamos o brainstorm, eu e Fabrizio Martinelli, que dirigiu o vídeo, pensamos em muitos recortes. Logo ficou claro a influência dos anos 90 nas nossas bagagens e achamos que o clipe tinha tudo a ver com a estética grunge. Aquela coisa de ter um fio central e ao redor disso imagens e símbolos, como num sonho; uma coisa davidlynchiana mesmo.

Como eu e Martin gravamos os instrumentos, perguntei se existia um jeito de nós dois sermos quatro no quadro. Pensei em formação clássica de banda, e tinha que ter os instrumentos e a gente tocando. TINHA que ter batera, guitarra. Imaginei um por um entrando em cena e a “banda” ir se formando aos poucos. Eu levantaria da bateria e a imagem ficaria lá, congelada… será que rola? Como faz isso? E aí, Brizio? 

“BORA”.




Segundo o próprio: “Esse efeito usado no clipe se chama Freeze Frame ou Stop and Go; e consiste em gravar a mesma cena, o mesmo quadro, com a câmera travada. E no nosso caso a gente precisou colocar os quatro em posições específicas para não sobrepor a imagem e assim poder recortar pra fazer o efeito. Então as cenas foram gravadas separadas: um take inteiro de Pitty na bateria, um inteiro de Martin no baixo, outro Pitty no vocal, outro Martin na guitarra. E a junção acontece na montagem.” 


Essa é a veia central. Nesse brainstorm, afinando as ideias com ele e Martin, vieram as outras imagens e sensações. Tem que ser “kinky”. Uns objetos BDSM, com certeza. Eu queria algemas e até tentamos, mas não deu certo. Já a venda funcionou lindamente, rs. 

Tem uma cena que eu amo, a que a gente chamou na hora de “gambito da rainha”: um plano frontal com uma luz de frente, um leve plongé, foco no carão. Alguns mastershots ali, olho no olho, papo reto. Outro lance que acho foda foi a ideia do Brizio de usar uma lente que se chama Lensbaby. Ela é um lance meio analógico, sei lá, tem que fazer literalmente na mão. Essa lente distorce e desfoca as laterais do quadro, e dá um aspecto onírico à cena. Fica lindo e tinha tudo a ver com o lance 90’s que queríamos. 


E é isso, Tempo de Brincar tá no mundo e nosso Boteco de hoje tá na saideira. Dá uma chegada lá no
meu Youtube pra assistir ;)


Qualquer hora eu volto. <3


Bjs, P.


Obrigada aos envolvidos pelo clipe foda!



Direção: Fabrizio Martinelli 

Direção de Fotografia: Alan Fábio Gomes 

Assistente de Câmera: Murilo Perches 

Contra-Regra: Caio Medeiros 

Produção Executiva: Silvia Helena Rosa

Sound Fxs: Leonardo Leone

Make Up & Hair: Pitty

Stylist: Juliana Maia


Por PITTY PRISCILA NOVAES LEONE 12 out., 2023
cresci aprendendo com minha mãe que não se pode desperdiçar nada. nadinha mesmo. comida no prato, roupa já bem gasta que ainda dá pra vestir, até o restinho da manteiga que fica na faca deve ser usado. por que jogar fora? as sacolas de plástico de supermercado, óbvio, sempre foram sacos de lixo em casa. lembro de milhões de exemplos da infância, como esses, que absorvi para a vida adulta. é interessante pensar que isso não é fruto de haver, em casa, o que se chama hoje de consciência ambiental. a real é que nem se falava nisso naquela época, e minha mãe estava mesmo era tentando sobreviver. com o pouco que a gente tinha, o restinho de pasta de dente no tubo parecia muito e devia ser usado até o final. como os sabonetes. como as sacolas ou garrafas plásticas. ou os papéis de presente do aniversário anterior. ou os copos de geléia mocotó que obviamente viravam copos de beber água - afinal, copos, não? lembro de notar diferenças em casas de amigos: ah, aqui os copos são todos iguais, tipo um conjunto. ou, mais recentemente, quando me dei conta na vida adulta que nem todo mundo usa sacola de mercado no lixinho do banheiro. tenho visto e convivido, e acho lindo tudo tão organizado e com as cores certas… mas sei lá porquê hoje estava no banheiro e olhei pro lado. o lixinho do meu banheiro tem sacola de mercado. na hora, pensei: “ih, acho que não sou chique. nas casas 'de adulto', os lixinhos são com saquinho feitos para este fim…” o segundo pensamento foi um flow gigante: memórias da minha infância e esses detalhes que contei acima, o contato com o punk rock e o anticapitalismo na adolescência, a noção de saúde ambiental que se tem hoje; e tudo isso se misturou em segundos na minha cabeça para chegar numa palavra: Upcycling. em moda, usa-se muito esse termo, e eu entendi por quê esse estilo me cativa. pode chamar de CUSTOMIZAÇÃO, tá? eu chamo, rs. desde adolescente, sempre curti pegar uma calça já meio zoada e transformá-la num shorts, ou uma camiseta mais velha e cortar os ombros, as mangas, ou as laterais e “costurá-la” de volta com alfinetes, por exemplo. ou usar, de uma camisa manga longa, apenas as mangas com um elástico costurado na parte do braço e, voilá, temos luvas. meias de nylon, arrastão ou não, são um prato cheio para composições diversas. cada pedaço vira o que você quiser. fazer dobraduras com amarrações, fitas ou o que tiver à mão - pode ser só um pedaço de tecido (bom, moulage é para especialistas. não é o meu caso, rs). customizar é reciclar coisas e encontrar novos usos para objetos, roupas, sacolas, pedaços de madeira, o que quer que seja. é usar a criatividade e transformar algo que supostamente não serve mais em algo útil novamente. olhando em retrospecto, esse conceito me cativa por tudo isso: o aprendizado de sobrevivência na infância, a identificação com a filosofia não consumista e baseada na subversão da aparência padrão na adolescência. e também perceber a analogia pra vida dessa visão: transmutação, adaptação, consciência. muito doido perceber nesses lapsos as coisas que vão nos formando. nossos alicerces, nossa base ética. era só um xixizinho matinal, aí fui olhar pro lixinho e deu nisso. “eu não sou o meu carro eu não sou meu cabelo esse nome, não sou eu e muito menos este corpo” ps: sacolas reutilizáveis, caixas e caixotes, muitas opções hoje em relação à sustentabilidade. sobre a democratização disso, é papo para outro encontro nesse boteco :)
Por PITTY PRISCILA NOVAES LEONE 18 ago., 2023
volto. sempre volto. eu te disse, independentemente do tempo ou circunstância; algo me faz voltar aqui. e, digitar se torna mais difícil. antes uma caneta e papel; e hieróglifos indecifráveis, porém, teclas. ok.
Por Pitty 05 jan., 2022
Esse processo natural, que há de ser respeitado, tem regras e leis próprias, que servem à natureza e não aos nossos desejos individuais. Propor esse encasulamento criativo com cada um e cada uma dessas parcerias foi intenso: cada larva chegou com o seu processo. e juntamos as nossas transformações, livremente, apostando tanto no feeling da natureza quanto naquele arrepio poderoso atrás da nuca que me percorria a espinha em todas as sessões - quando sentia que o bicho estava se formando.
19 ago., 2021
Auto aceitação, autoconhecimento, bodypositive, bodyshaming, bodyneutral Esse corpo e mente com o qual eu acordo e vou dormir todos os dias. Você gosta mesmo de quem você é? Absolutamente? Você se acha, tipo, incrível, quando tenta minimizar as minúcias do que te faz mal, sejam elas superficiais ou não? Você se acha, tipo, perfeita, quando defende que assim tá bom pra vc e pronto? E as angústias de sempre, onde colocamos hoje? Nas lutas fora de nós? Nas lutas imaginárias cabeça a dentro? Nas batalhas diárias reais cabeça a dentro e fora? Se olhar no espelho e ver; o quê? O que nossa mente diz, o que o momento diz, o que você quer tanto acreditar diz. Matéria, ego, insegurança. Ou o oposto, tão desequilibrado quanto; megalomania, mitomania, negação da realidade. Olhar no espelho de vez em quando, depois de algumas, turva. Quando você se sente invencível, potente e prepotente; mas fora do véu paralelo é apenas inconveniente. Bradando aos 4 cantos sua somente vista por si superioridade. Olha no espelho de novo, turva. Turva como a água agitada das nossas sensações, o reflexo que não para quieto, até que vc capte um fragmento que te faça sentido. É aqui. Assim eu quero me ver. Congela. Mas, a vida derrete. E a gente vai olhar de novo no espelho, derretida, turva. Até focar uma pupila com a outra, a de você mesma, do outro lado. E passar a vida todinha caçando ser menos turva e saber, minimamente, o que escolher. Hoje, lógico.
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